Rupi Kaur divide o livro Outros Jeitos de Usar a Boca em quatro partes: a dor, o amor, a ruptura e a cura. Nesse livro, Rupi compartilha com o leitor poesias extremamente pessoais, focando no amor próprio e na valorização da mulher pela mulher. Cada verso, um soco no estômago diferente, mas quando cheguei na última parte do livro, os socos passaram a ser como tapas nas costas me dizendo “ei, você consegue”.
Claro, para chegar na cura, tive que passar pelo capítulo da ruptura. Isso no livro e na vida. Mas eu aprendi que a dor faz parte para que a gente consiga aprender mais sobre nós mesmos.
Quando chegou o meu aniversário, eu pensei ser a gota d’água. Pensei que tivesse chegado ao meu limite e que a partir daquele dia eu não iria se quer fingir um sorriso de novo. Procurei a parte onde tivesse mais plantas da minha faculdade, tirei o sapato e me sentei na grama. Imaginei por alguns minutos que eu estava distante de tudo e que as coisas ficariam bem. Resolvi pegar um ônibus e ir para uma cafeteria que fazia tempo que queria conhecer, perto da Redenção, o meu parque favorito em Porto Alegre.
Enquanto eu ia passando, uma amiga me encontrou. Ela me abraçou e perguntou se eu estava bem. Ao olhar nos meus olhos ela soube que não estava, então eu não precisei abrir a boca e só continuei caminhando até o banheiro. Lá eu chorei. De novo, me olhando no espelho. Chorei feito uma criança e segui com aquela minha amiga até o saguão do meu prédio, que me fez adiar um pouco a minha ida à cafeteria.
De longe ouvi algumas pessoas gritando e rindo. Me virei assustada para ver o que tava acontecendo e foi ali que percebi que finalmente cheguei na minha cura que tanto imaginei enquanto lia poesia.
Chorei de novo, mas daquela vez era por gratidão, leveza e amor. Foi por entender que eu estava me sentindo mal por pessoas que não faziam nada para me ver bem, enquanto tinha todas aquelas outras que estiveram comigo todos os dias em que eu só me sentia perdida ou sozinha. Chorei quando percebi que eu não precisava de mais nada, as pessoas que realmente importam fariam tudo para me ver bem, e não ficariam me olhando de longe como se nunca tivessem sido convidadas para a festa.
Rupi Kaur termina o livro com essa poesia:
você me abriu ao meio
do jeito mais honesto
que existe
de abrir uma alma
e me forçou a escrever
num momento em que eu tinha certeza que
nunca mais conseguiria escrever
– obrigada
E é com ela que eu começo o meu novo capítulo.